quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Doce paixão


Amor e alegria,
Sonhos pra sonhar...
É pura fantasia,
Um bem estar!
É um dia novo, pra recomeçar...
É festa do sol e do luar
Pra te abraçar.
Amigos toda hora,
É hora de amar;
Beijar...
Não sei o que seria,
Sem o teus olhos pra brilhar?
Não sei se a minha vida
Seria devagar...
Se divagando estaria,
Vivendo sem viver.
Tu és o que mais gosto;
Só gosto de você,
Meu mundo, razão e emoção;
Oh, Minha doce paixão!

Roberto Corazza

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Poema sobre o amor eterno


Inventaram um amor eterno. Trouxeram-no em braços para o meio das pessoas e ali ficou, à espera que lhe falassem. Mas ninguém entendeu a necessidade de sedução. Pouco a pouco, as pessoas voltaram a casa convictas de que seria falso alarme, e o amor eterno tombou no chão. Não estava desesperado, nada do que é eterno tem pressa, estava só surpreso. Um dia, do outro lado da vida, trouxeram um animal de duzentos metros e mil bocas e, por ocupar muito espaço, o amor eterno deslizou para fora da praça. Ficou muito discreto, algo sujo. Foi como um louco o viu e acreditou nas suas intenções. Carregou-o para dentro do seu coração, fugindo no exacto momento em que o animal de duzentos metros e mil bocas se preparava para o devorar.

Valter Hugo Mãe

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Loucos


Só os loucos não são loucos,
Só os loucos vivem bem...
São alegres e felizes,
Fazem tudo sem errar.
Só os loucos amam muito,
São capazes de sonhar;
São sinceros, carinhosos,
Vivem só para amar.
Só os loucos fazem loucuras
E abraçam sem pensar...
Beijam com muita vontade,
Dizem tudo o que pensam;
Nunca pensam pra ajudar.
Só os loucos são carentes,
Diferentes...
Dizem sempre o que querem
E ouvem tudo com prazer!
Nunca dormem satisfeitos,
Pois o mundo querem mudar.
São poetas sonhadores,
Doidos caprichosos...
Malucos sem defeitos!
Lelés perfeitos...
Seres sem igual.
Amantes da natureza,
Mistura do açúcar e sal;
Doces e amargos também.
Sou um louco como tal!
Loucos somos...

Roberto Corazza


domingo, 14 de dezembro de 2014

A mulher madura


O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos. De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé. Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda. A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo. A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs. A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito. A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril. O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa. Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza. Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador. Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo. A mulher madura está pronta para algo definitivo. Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo. A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes. Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.

Affonso Romano Sant'Anna

sábado, 13 de dezembro de 2014

Poema sujo


turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos

menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia

(Trecho de Poema Sujo, de Ferreira Gullar).

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Se eu de ti me esquecer


Se eu de ti me esquecer, nem mais um riso
Possam meus tristes lábios desprender;
Para sempre abandone-me a esperança,
Se eu de ti me esquecer.

Neguem-me auras o ar, neguem-me os bosques
Sombra amiga, em que possa adormecer,
Não tenham para mim murmúrio as águas,
Se eu de ti me esquecer.

Em minhas mãos em áspide se mude
No mesmo instante a flor, que eu for colher;
Em fel a fonte, a que chegar meus lábios,
Se eu de ti me esquecer.

Em meu peregrinar jamais encontre
Pobre albergue, onde possa me acolher;
De plaga em plaga, foragido vague,
Se eu de ti me esquecer.

Qual sombra de precito entre os viventes
Passe os míseros dias a gemer,
E em meus martírios me escarneça o mundo,
Se eu de ti me esquecer.

Se eu de ti me esquecer, nem uma lágrima
Caia sobre o sepulcro, em que eu jazer;
Por todos esquecido viva e morra,
Se eu de ti me esquecer.

Bernardo Guimarães

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

E por falar


E por falar em paixão,
Você é a razão;
O amor que sonhei...
A estrela, a lua por quem me enamorei.
E por falar em amor,
Sem razão de ser,
Seria o cheiro da alegria,
O perfume da flor;
Caminho de rosas,
Botão...
E por falar em amar,
Tudo pode acontecer...
Nestas horas de encanto,
Sem pranto, sem dor.
E por falar da alegria,
Bem que eu queria
Viver sem nostalgia,
Te amando...
E por falar de um abraço,
Bem que podias estar em meus braços
Dormindo, sonhando,
Vivendo...
E por falar em teus beijos,
Me vem o desejo de te beijar.
E por falar disto tudo,
Tu és o meu mundo;
Minha razão de ser.
E por falar em saudade,
Só vivo porque
Eu vivo este instante,
Só eu e você.

Roberto Corazza

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

As pombas


Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada.

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

Raimundo Correia

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Quero...



Quero...
Um bom dia,
o colorido da tua alma,
um beijo
um café.
Um boa tarde,
uma risada gostosa,
um beijo
um chá.
Um boa noite,
"como foi seu dia"?
um beijo
uma carícia
uma taça de vinho...
Mais tarde...
uma taça de vinho,
teu corpo ávido,
tua alma calma
e todos os teus beijos...

Gardenia

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Modo de amar


Prometo ser-te fiel se mo fores
também, não é certo que mo venhas a
ser. Por isso, já to perdoo.

Prefiro partir assim para o resto da
vida. Assim, com os olhos abertos à
frustração e talvez à vulnerabilidade.

Não prevejo nada em concreto, acredita,
não tenho olhos para outras moças,
só o digo assim por ser verdade.

Que tarde ou cedo havemos de encontrar
nos outros motivos de inusitado
interesse, e depois, pergunto,

Vale mais que acordemos um amor
sobreposto ao futuro, um amor agora
que tenha conhecimento do futuro

e não esperar mais nada senão
a verdade. A decadente verdade que
chega já depois dos primeiros beijos.

Valter Hugo Mãe

domingo, 7 de dezembro de 2014

Aninha e suas pedras


Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina

sábado, 6 de dezembro de 2014

Lembrar-me-ei de ti


Lembrar-me-ei de ti, e eternamente
Hei de chorar tua fatal ausência,
Enquanto atroz saudade
Não extinguir-me a seiva da existência;
E recordando amores que frui,
Por estes sítios sempre entre suspiros
Lembrar-me-ei de ti.
De noite no aposento solitário
Cismando a sós, verei a tua imagem
Aparecer-me pálida e saudosa
Dos sonhos na miragem;
E então chorando o anjo que perdi,
Meu leito banharei de ardente pranto
Chamando em vão por ti.
Quando a manhã formosa alvorecendo
De seus fulgores inundar o espaço,
Demandarei saudoso
Esse lugar em que no extremo abraço
Teu lindo corpo ao peito meu cingi;
E deste vale os ecos acordando
Perguntarei por ti.
Quando por trás daqueles arvoredos
O sol sumir-se, vagarei sozinho
Por essas sombras, onde outrora juntos
Nos sentamos à borda do caminho;
E às auras que suspiram por ali,
Inda teu doce nome murmurando,
Hei de falar de ti.
Além, onde sonora a fonte golfa
À sombra de um vergel sempre viçoso,
Que sobre nós mil flores entornava,
Irei beijar a relva em que ditoso
Sobre teu seio a fronte adormeci,
E com a clara linfa que murmura,
Suspirarei por ti.
E quando enfim secar-se a última lágrima
Nos olhos meus em triste desalento,
Bem como a lira, em que gemendo estala
A extrema corda com dorido acento,
No sítio em que a primeira vez te vi,
Exalando um suspiro, de saudades
Hei de morrer por ti.

Bernardo Guimarães

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Filtro solar!


Nunca deixem de usar o filtro solar.
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro, seria esta use filtro solar.
Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude.
Ou, então, esquece...
Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra.
Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
Cante.
Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima, às vezes por baixo.
A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo.
Não esqueça os elogios que receber.
Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.
Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida.
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço ainda não sabem.
Tome bastante cálcio.
Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.
Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
Dance...
Dance...
Dedique-se a conhecer seus pais.
É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.
Seja legal com seus irmãos.
Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.
More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
Viaje.
Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.
Mas, no filtro solar, acredite.


Pedro Bial

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Bilhete


Se você dobrar à esquina
da rua detrás da minha
e se não tiver preguiça
de atravessá-la todinha,
encontrará na esquina oposta
num muro alto caiado
uma frase escrita em sânscrito
como se fosse um recado
para ninguém sabe quem
e por ninguém decifrado.
Se conseguir decifrá-la
responda seja o que for
lá mesmo no espaço ao lado
faça-me este favor
que não vai lhe faltar nada.
Era só isso.
Obrigada

Lenilde Freitas

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Tudo se fez


Foi assim, e tudo se fez...
Fez-se o mundo e o universo;
Fiz os meus versos
E as controvérsias;
Fez-se o amor, também a paixão.
Criou-se saudade e a realidade...
Nasceu numa flor!
E veio você...
Nascestes pra mim;
Brotou meu jardim!
Enfim eu nasci, só pra te amar...
Viestes serena, tão linda, pequena,
Mas grande também!
Sorrindo e me amando,
Cantando...
Então eu chorei de alegria;
Sorri ao te ver
E tão feliz eu fiquei!
E tudo se fez...

Roberto Corazza.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O porvir


Cedo se fez o dia
pra que em seu transcorrer
ainda houvesse as manhãs
as tardes , as noites e as madrugadas.
Pequeno se fez o ser
para que em seu crescimentto
ainda houvesse a infância
a juventude e a maturidade.

...E na madrugada do dia
antes que um novo se fizesse...
na maturidade do ser
A gente se encontrou.
Será dia?
Será noite?

E antes que tudo finde
nasce o amor
que a tudo renova.
que faz do dia ..seu dia-a-dia

Luciete Valente