terça-feira, 13 de novembro de 2012

Nós nunca nos entendemos


Após uma boa hora de conversa, entendemo-nos perfeitamente. Amanhã vem ter comigo com as mãos na cabeça, gritando:
- Como é possível? O que é que você percebeu?
Não me disse isto e isto?
Isto e isto, perfeitamente.
Mas o problema é que você, meu caro, nunca saberá nem eu lhe poderei nunca dizer como se traduz, em mim, aquilo que você me disse.
Não falou turco, não. Eu e você usamos a mesma língua, as mesmas palavras.
Mas que culpa temos nós de que as palavras, em si, sejam vazias? Vazias, meu caro.
Ao dizê-las a mim, você preenche-as com o seu sentido; e eu, ao recebê-las, inevitavelmente preencho-as com o meu sentido.
Pensamos que nos entendíamos; de fato, não nos entendemos.E conto velho também é o fato de o sabermos.
Eu não pretendo dizer nada de novo.
Apenas volto a perguntar-lhe:
- Porque continua, então, a proceder como se não o soubesse?
Porque continua a falar-me de si se sabe que para ser para mim como é para você mesmo e para eu ser, para si, como sou para mim, seria preciso que eu, dentro de mim, lhe desse a mesma realidade que você dá a si mesmo, e vice-versa, e isso não é possível?
Infelizmente, meu caro, faça o que fizer, dar-me-á sempre uma realidade à sua maneira, mesmo acreditando de boa-fé que é à minha maneira; e será, não digo que não; talvez seja; mas um «à minha maneira» que eu não conheço nem poderei nunca conhecer; que apenas você, que me vê de fora, conhecerá: portanto, um «à minha maneira» para si, não um «à minha maneira para mim».

Luigi Pirandello, in "Um, Ninguém e Cem Mil"

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