segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Último soneto


De tanta mágoa já se cansa o vento.
Em tanta teia já se enreda a fala.
O meu Abril é um país cinzento.

O cravo não é cravo. É uma bala.

Na minha rua a lua é dos soldados
e brilha como o aço dos punhais.
No meu abril que foi dos namorados
o vento sopra. E dói ainda mais.

Tão grande... meu amor... é a cidade
como é pequeno quem se morre nela
coberto com o linho da saudade.

Aqui abri de vez esta janela:
que me importa morrer pela verdade
se nunca morre quem morrer por ela.

JOAQUIM PESSOA

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