quinta-feira, 7 de março de 2013

Poema Septuagésimo Sétimo


Não te peço perdão.
E peço-te que não me peças perdão.
Faz como os alfarrabistas para quem
não interessam as qualidades de uma obra
mas, e apenas, a sua raridade.
Não me julgues ainda.
Deixa que o tempo se encarregue desse julgamento.
Hoje e amanhã não são o mesmo dia.
Todos os passados já foram futuro, e o futuro
é com esses passados que tem de construir-se.
O próximo futuro.
Porque o futuro longínquo será a soma
dos futuros mais próximos, isto é,
a soma dos passados que hão de
vir, sem pedir perdão a um futuro
que, exatamente por ser futuro,
não se pode saber se chegará.

Joaquim Pessoa

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