terça-feira, 2 de outubro de 2012

A prática fomenta a vontade


Se desejamos tornar-nos fortes, temos, primeiro, de comprender o que é a vontade. 
A vontade não é nenhuma entidade mística, que presida aos outros elementos do carácter, qual mestre de banda - sim, a soma, a substância de todos os nossos impulsos e disposições. 
Essa energia formadora do carácter não tem senhor a quem obedeça além de si própria; e é graças a ela que algum poderoso impulso pode vir a dominar e unificar o complexo. 
Isto forma a "força de vontade" 
- um supremo desejo que se ergue acima dos mais para arrastá-los num mesmo sentido ou para uma dada meta. 
Se não descobrimos essa meta não alcançaremos a unidade - e seremos simples pedra de que outro homem se utiliza nas suas construções.

Vem daí a inutilidade da leitura de livros que apontam as estradas reais do carácter. 

Tenho diante de mim um volume de um tal Leland (Londres, 1912), intitulado Tendes a Vontade Forte? ou Como Desenvolver Qualquer Faculdade do Espírito pelo Fácil Processo do Auto-Hipnotismo. 
Existem centenas destas obras-primas ao alcance dos simplórios de todas as cidades. 
Mas o caminho é mais penoso e longo.
Esse caminho é o caminho da vida. 
Vontade, isto é, desejo unificado (Schopenhauer já o provou), constitui a forma característica da vida que cresce; e a sua força só aumenta quando a vida lhe defronta novos labores e novas vitórias. 
Se desejamos ser fortes, devemos, antes de mais nada, escolher o nosso objectivo; em seguida, avançar, aconteça o que acontecer. 
A prudência aqui reduz-se a conduzir o empreendimento por partes, porque cada passo em falso enfraquecer-nos-à, do mesmo modo que cada vitória parcial nos fortalecerá. 
A realização cria mais realizações; graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes; a prática fomenta a vontade.

Will Durant, in "Filosofia da Vida"

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