terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A latinha de leite


Um fato real. 

Dois irmãozinhos maltrapilhos, provenientes da favela, um deles de cinco anos e o outro de dez, iam pedindo um pouco de comida pelas casas da rua que beira o morro. 
Estavam famintos "vai trabalhar e não amole", ouvia-se detrás da porta; "aqui não há nada moleque...", dizia outro...
As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças... 
Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes "Vou ver se tenho alguma coisa para vocês... coitadinhos!" 
E voltou com uma latinha de leite.
Que festa! Ambos se sentaram na calçada. 
O menorzinho disse para o de dez anos "você é mais velho, tome primeiro..." 
e olhava para ele com seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
Eu, como um tolo, contemplava a cena... 
Se vocês vissem o mais velho olhando de lado para o pequenino! 
Leva a lata à boca e, fazendo gesto de beber, 
aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só gota de leite. 
Depois, estendendo a lata, diz ao irmão "Agora é sua vez. Só um pouco." 
E o irmãozinho, dando um grande gole exclama "como está gostoso!"
"Agora eu", diz o mais velho. 
E levando a latinha, já meio vazia, à boca, não bebe nada. 
"Agora você", "Agora eu", "Agora você", "Agora eu"..
E, depois de três, quatro, cinco ou seis goles, o menorzinho, de cabelo encaracolado,
barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo...ele sozinho.
Esse "agora você", "agora eu" encheram-me os olhos de lágrimas...
E então, aconteceu algo que me pareceu extraordinário. 
O mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite. 
Estava radiante, o estômago vazio, mas o coração trasbordante de alegria. 
Pulava com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, 
ou melhor, 
com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias
sem dar-lhes maior importância.
Daquele moleque nós podemos aprender a grande lição,
"quem dá é mais feliz do que quem recebe." 
É assim que nós temos de amar. 
Sacrificando-nos com tal naturalidade, 
com tal elegância, com tal discrição, 
que os outros nem sequer possam agradecer-nos o serviço que nós lhe prestamos."

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