muito mais do que devia,
são um perigo as palavras.
Quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredite
é a mais lenta das feridas mortais,
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada.
E de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos.
Um perigo
as palavras,
mesmo agora,
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento
em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero...
Alice Vieira
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