quarta-feira, 16 de julho de 2014

...brincávamos a cair nos braços um do outro


...brincávamos a cair nos
braços um do outro, como faziam
as actrizes nos filmes com o Marlon
Brando, e depois suspirávamos e ríamos
sem saber que habituávamos o coração à
dor. Queríamos o amor um pelo outro
sem hesitações, como se a desgraça nos
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que
o peito era todo em movimento e não
sabíamos que a vida podia parar um
dia. Eu ainda te disse que me doíam os
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o
cansaço chegava e instalava-se no meu
poço de medo. Tu rias e caías uma e outra
vez à espera de acreditares apenas no que
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam, quando percebíamos que o mundo era  feito de distância e tanto tempo vazio, tu ficavas muito feminina e abandonada e eu sofria mais ainda com isso. estavas tão diferente de mim como se já tivesses partido e eu fosse apenas um local esquecido 
sem significado maior no teu caminho. Tu dizias que se morrêssemos juntos entraríamos juntos no paraíso e querias culpar-me por ser triste de outro modo, um modo mais perene, lento, covarde. Eu amava-te e julgava bem que amar era 

afeiçoar o corpo ao perigo. Caía eu
nos teus braços, fazias um bigode no teu rosto como se fosses o Marlon Brando. Eu, que te descobria como se descobrem fantasias no inferno, não queria ser beijado pelo Marlon Brando e entrava numa combustão modesta que, às batidas do meu coração, iluminava o meu rosto como lâmpada falhando ...

a minha mãe dizia-me, Valter tem cuidado, não brinques assim, vais partir uma perna, vais partir a cabeça, vais partir o coração...e estava certa, foi tudo verdade .

Valter Hugo Mãe

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