sexta-feira, 25 de julho de 2014

O homem que já não sou


Não me olhes agora que estou
mais velho e não correspondo em
nada ao homem que amaste, procura encarar a tristeza sem me incluíres, seria demasiado cruel que me usasses para a
dor. Para ti quis trazer as coisas mais belas
e em tudo o que fiz pus o cuidado meticuloso de quem ama. Não me obrigues a cortar os
pulsos quando fores num minuto ao
jardim com o cão .
Esta noite, sem notares, sustive a
respiração e quase morri. Não deste
por nada. Julgaste que voltei a
ressonar e até terás esboçado um
sorriso, e se eu pudesse morrer
enquanto sorris, pergunto
deixo para depois, ou talvez
desista. Mas não pode ser se
tu me olhares em busca de tudo o que
já não existe. Não pode ser, levo a
faca maior para debaixo do meu
travesseiro, juro-te que me
mato se continuares assim...

Valter Hugo Mãe, in 'contabilidade'

Nenhum comentário:

Postar um comentário