sexta-feira, 11 de julho de 2014

Nove


Vi teus vestidos brilharem
sem qualquer clarão do dia.
Disseram ser luz de flores,
flores de campos extensos,
cujos nomes nem sabiam. . .

Vi teu rosto luminoso
inclinar-se em meu silêncio.
Mas disseram ser a lua,
prismas de estrelas, areias,
marinha fosforescência. . .

E tua voz me falava
em grandes raios profusos.
Mas diziam ser o vento,
o outono pelas ramagens,
o idioma cego dos búzios. . .

E andei contigo em minha alma
como os reis levam coroas
e as mães carregam seus filhos
e o mar o seu movimento
e a floresta seus aromas.

Diziam que era da noite,
da miragem dos desejos. . .
Hei de banhar os meus olhos
nas mil ribeiras da aurora,
para ver se ainda te vejo.

Cecília Meireles

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