quarta-feira, 8 de maio de 2013

Poema XCVIII


Deixar nas tuas mãos tudo o que eu amo
nadar no lago verde dos teus olhos
em teu corpo saber como eu me chamo
queimar manhãs de incenso ou de petróleos
chamar por ti, uivar como se um lobo
devorasse corças brancas no meu peito
e o coração inteiro fosse pouco
para amar ou morrer de qualquer jeito
saber que esse punhal que o vento ergue
acima do esplendor da amendoeira
é apenas o tempo que se perde
ao acender de dia uma fogueira
e naufragar em ti como se eu fosse
um mastro habituado a correr mundo
e no mar do teu ventre inquieto e doce
mergulhar nesta noite até ao fundo.

JOAQUIM PESSOA

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