domingo, 22 de abril de 2012

Não amar nem odiar


Se possível, não devemos alimentar animosidade contra ninguém, mas observar bem e guardar na memória os procedimentos de cada pessoa, para então fixarmos o seu valor, pelo menos naquilo que nos concerne, regulando, assim, a nossa conduta e atitude em relação a ela, sempre convencidos da imutabilidade do carácter. 
Esquecer qualquer traço ruim de uma pessoa é como jogar fora dinheiro custosamente adquirido. 
No entanto, se seguirmos o presente conselho, estaremos a proteger-nos da confiabilidade e da amizade tolas.
"Não amar, nem odiar", eis uma sentença que contém a metade da prudência do mundo;

"nada dizer e em nada acreditar" contém a outra metade. 
Decerto, daremos de bom grado as costas a um mundo que torna necessárias regras como estas e como as seguintes.

Mostrar cólera e ódio nas palavras ou no semblante é inútil, perigoso, imprudente, ridículo e comum. 
Nunca se deve revelar cólera ou ódio a não ser por actos; e estes podem ser praticados tanto mais perfeitamente quanto mais perfeitamente tivermos evitado os primeiros. Apenas animais de sangue frio são venenosos.
Falar sem elevar a voz: essa antiga regra das gentes do mundo tem por alvo deixar ao entendimento dos outros a tarefa de descobrir o que dissemos. 
Ora, tal entendimento é vagaroso, e, antes que termine, já nos fomos. 
Por outro lado, falar sem elevar a voz significa falar aos sentimentos, e então tudo se inverte. 
Com maneiras polidas e tom amigável, pode-se falar grandes asneiras a muitas pessoas sem perigo imediato.

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

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