segunda-feira, 23 de abril de 2012

Partidas e chegadas



Quando observamos,
da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matina, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.

O barco,
impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.

Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.

Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará:
"já se foi".
Terá sumido?
Evaporado?
Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.

O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade
que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.

O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz:
já se foi, haverá outras vozes,mais além, a afirmar:
"lá vem o veleiro".

Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos:
 "já se foi".

Terá sumido?
Evaporado?
Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo.
Sua capacidade mental não se perdeu.
Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado.

Conserva o mesmo afeto que nutria por nós.
Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita no outro lado.

E é assim que, no mesmo instante em que dizemos:
já se foi, no mais além, outro alguém dirá feliz:
 "já está chegando".

Chegou ao destino
levando consigo
as aquisições feitas durante a viagem terrena.
A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos.

Cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.

A vida é feita de partidas e chegadas.
De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.

Um dia partimos do mundo espiritual na direção do mundo físico;
noutro partimos daqui para o espiritual,
num constante ir e vir, como viajantes da imortalidade que somos todos nós.

(Richard Simonetti)




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